terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MANUEL BUÍÇA,NÃO FOI UM ASSASSINO,NEM TERRORISTA,MAS SIM UM LIBERTÁRIO QUE TEVE A CORAGEM DE DERRUBAR UM SÍMBOLO DE MAIS DE 800 ANOS DE PODER!

MANUEL BUÍÇA HERÓI NACIONAL,DERRUBOU UM SÍMBOLO DE 800 ANOS DE PODER E TIRANIA QUE OPRIMIU ESTE POVO.



Manuel Buíça


Manuel Buíça, de seu nome completo Manuel dos Reis da Silva Buíça (Bouçoães, 30 de dezembro de 1876 — Lisboa, 1 de fevereiro de 1908) foi o regicida que, efectivamente, alvejou de forma mortal, D. Carlos I.




Vida privada

Filho do reverendo Abílio da Silva Buíça, pároco de Vinhais, e de Maria Barroso.

Conhecem-se-lhe duas ligações conjugais, a primeira, entre 1896 e 1898 e a segunda com com Hermínia Augusta da Costa, de que resultaram dois filhos, Elvira e Manuel, à data do regicídio, com sete anos e quatro meses, respectivamente.

Cerca de seis meses antes do atentado, Manuel Buíça enviuva.

Homem de carácter expansivo e exaltado, não mantinha no entanto muitas ligações exteriores ao seu círculo profissional e frequentava, com Alfredo Costa e Aquilino Ribeiro (uma das pessoas a quem, de resto, legou o testamento), o Café Gelo, no Rossio.

Vida profissional

Começou a sua carreira profissional ao ingressar no exército, onde alcançou a categoria de 2º sargento no regimento de cavalaria de Bragança, exercendo também aí, o cargo de instrutor da carreira de tiro. Senhor de uma pontaria exímia, detinha o curso de mestre de armas e uma medalha de atirador de 1ª classe (que se viu justificada pela precisão com que, a 8 metros de distância do landau em que seguia o monarca, Buíça o alvejou na coluna vertebral). Contudo a sua carreira militar não deixou de ser algo atribulada, figurando na sua caderneta: três punições disciplinares, por infracções diversas. Demitido do exército, sabe-se que a partir de 1898, Buíça envereda pela carreira de docente do ensino livre, leccionando no Colégio Nacional, ministrava também, a nível particular, lições de música e francês.

O regicídio

Na madrugada do dia 1 de fevereiro de 1908, Manuel Buíça reúne-se com Alfredo Costa e outros carbonários na Quinta do Xexé, aos Olivais, onde planeiam o atentado. No mesmo dia pelas duas horas da tarde, almoça com Alfredo Costa e mais três desconhecidos, numa mesa a um canto do Café Gelo, que fica perto da porta para a cozinha, saem estes para dar lugar a um outro que se senta à mesma mesa, com quem os regicidas conversam baixo. Consta que durante esta conversa Buíça terá dito, em tom jocoso, a um outro freguês do mesmo café sentado numa mesa à parte, o seguinte dito muito banal na altura: "Estamos aqui, estamos em Timor...", relacionado já com a empresa que ia tomar em mãos.

Findo o diálogo, Buíça é o primeiro a se levantar, diz aos outros dois que vai buscar o varino e o resto, seria muito provavelmente a carabina winchester, modelo 1907 (com o n.º de série 2137), importada da Alemanha por Heitor Ferreira, com que alvejaria dali a algumas horas o rei D. Carlos I e o princípe-herdeiro D. Luís Filipe.


Pelas quatro horas da tarde, do mesmo dia, Manuel Buíça com Domingos Ribeiro e José Maria Nunes, posiciona-se no Terreiro do Paço, perto da estátua de D. José, ficando o primeiro perto duma árvore, frente ao Ministério do Reino, junto a um quiosque.

Alfredo Costa, Fabrício de Lemos e Ximenes assumem posições debaixo da arcada do mesmo ministério, os seis aguardam a chegada do monarca, misturados com a população que espera o desembarque da família real, acompanham atentamente a atracagem do navio a vapor, D. Luís, onde seguia a mesma.

Sensivelmente às cinco horas e vinte minutos, Manuel Buíça, avançando da placa central do Terreiro do Paço, a cinco ou oito metros de distância do landau régio, descobre a carabina, assenta um joelho em terra e abre fogo à retaguarda do mesmo, atingindo o rei no pescoço, partindo-lhe a coluna vertebral, que o vitima instantaneamente, não o sabendo Buíça alveja o rei uma segunda vez, desta feita, no ombro esquerdo. No príncipe-herdeiro também é desfechado um projéctil, que lhe atravessa a face esquerda, saindo-lhe pela nuca.

Finalmente, o Tenente Figueira, que escoltava o landau real, abate Manuel Buíça com uma estocada, não sem antes ser ainda atingido por este numa coxa.

Depois de morto, o seu cadáver é alvejado, trespassado e pisoteado, no Terreiro do Paço e no Arsenal, para onde é levado.

O funeral

Manuel Buíça, com trinta e dois anos, foi a enterrar no dia 11 de fevereiro de 1908.

Na véspera, um grupo de três homens, membros da Associação do Registo Civil, manifestou ao director da morgue, a vontade de proporcionar a Buíça, enquanto associado da mesma agremiação cívica, um funeral civil.


Autopsiado no início da madrugada do mesmo dia, mais tarde, pelas três horas e trinta minutos, o seu cadáver, bem como o de Alfredo Costa e de João Sabino (morto da luta que opôs a escolta real aos assassinos, e que mais tarde foi ilibado de qualquer participação no atentado) foram acondicionados em ataúdes de chumbo e seguiram depois, num char-à-bancs, para o cemitério do Alto de São João.

Lá chegados, os caixões foram conduzidos à sala dos depósitos onde os soldaram, cerca das cinco horas e trinta minutos, Manuel Buíça foi sepultado na 8.ª secção, coval 7749.

Apesar das tentativas governamentais de manter os funerais dos regicidas em segredo absoluto, o que impediu inclusive que estes recebessem qualquer tipo de cerimónia fúnebre, os mesmos foram acompanhados por cerca de 20.000 pessoas.

Após a Implantação da República, a Associação do Registo Cívil e do Livre Pensamento adquire terreno no Cemitério para aí erigir um monumento aos "heróicos libertadores da Pátria" (palavras constantes no requerimento apresentado à C.M.L.).

O monumento, composto por dois braços, um empunhando um facho e outro correntes rebentadas, foi desmantelado durante o Estado Novo, e os corpos trasladados para outro local, dentro do Cemitério. Apesar dos elementos do monumento se encontrarem preservados, nunca foram repostos.

Considerações finais

Surgiram rumores, depois dos funerais, que o regicídio teria sido organizado pela Carbonária a que Manuel Buíça estava ligado, até que a Maçonaria estaria implicada no caso, porém, nada pôde ser esclarecido, pois todo o fruto das investigações do regicídio, após a Proclamação da República Portuguesa, a 5 de outubro de 1910, desapareceu.

Autobiografia

Escrita em 28 de Janeiro de 1908, quatro dias antes do regicídio:

"Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais, concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes), fui casado com D.Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D.Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, número... rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, número quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comércio e Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigo e com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4o andar, esquerdo. Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça. Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa".

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